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Desertificação: a consequência do desmatamento e do uso inadequado do solo

Atualizado: 5 de mar. de 2021

Por Mariana Carvalho Barbosa da Silva


A desertificação é um fenômeno oriundo da ausência de umidade no solo, é causado pelo desmatamento, queimadas e uso inadequado do solo. Ocorre quando o solo se encontra exposto e desprotegido às condições de clima seco e árido.


O solo desertificado se torna estéril, tal como o solo do deserto, além de irrecuperável, improdutivo e inabitado. As principais causas da desertificação são: o desmatamento, o uso intensivo do solo (por meio de escavações constantes, extrativismo vegetal e mineral), queimadas e práticas inadequadas da agricultura, como o uso de agrotóxicos e pastoreio.


Segundo a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas - UNCCD, o termo desertificação caracteriza realidades de degradação extrema e se aplica à terra, à cobertura vegetal e à biodiversidade. Também está associada à perda da capacidade produtiva nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas.


Para o pesquisador da Embrapa Semiárido Iêdo Bezerra Sá, "conciliar o desenvolvimento econômico com o respeito ao meio ambiente somente é possível com tecnologia e informação. Para isso, são necessárias políticas públicas que incentivem a adoção de tecnologias que minimizem o avanço dos processos de desertificação".


Mudanças climáticas e desertificação


A interação das mudanças climáticas com a desertificação ocorre em diferentes escalas. O clima influencia a desertificação por meio do seu impacto sobre solo, vegetação, ciclo hidrológico e, sobretudo, de suas implicações no uso da terra.


Para o PPA 2016-2019 (Plano Plurianual), o Programa 2050 – Mudança do Clima traz um conjunto de objetivos que, de forma integrada com as metas e as iniciativas propostas, procura evidenciar a evolução do estágio de implementação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). Os objetivos são:

  • Adequação ecológica e socioambiental de instrumentos de uso, produção e consumo sustentável em áreas suscetíveis à desertificação;

  • Identificação, diagnose e combate aos processos de desertificação;

  • Mapeamento, interpretação de dados e recuperação de áreas ambientalmente degradadas em processo de desertificação

O dia 17 de junho foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Mundial de Combate à Desertificação. O momento é de refletir sobre os prejuízos e, principalmente, de pensar em alternativas para minimizar os efeitos desse fenômeno que vem avançando a cada ano.


Desertificação no Brasil


Atualmente, diversas regiões do Brasil estão sendo atingidas pelo processo de desertificação, sobretudo, a região do Nordeste, nos estados do Piauí, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A extensão afetada ultrapassa 90% dos seus territórios, a maior parte localizada no Semiárido, onde as condições ambientais são vulneráveis à exploração extrativista ou ao manejo inadequado dos recursos naturais.


Além dessas regiões, áreas vulneráveis no Brasil foram nomeadas pelo PAN como Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD). São áreas que não possuem clima semiárido ou subúmido seco, mas vêm sofrendo com a ocorrência de secas que, segundo o PAN-BRASIL, seriam uma prova da expansão da degradação ambiental semelhante à desertificação. Áreas como: Pampas Gaúchos e o Cerrado do Tocantins. Esse processo também tem se expandido para regiões de Minas Gerais e ao norte do Mato Grosso.


Somente no Brasil, do total de 982.563 km2 da área do Semiárido, cerca de 600 mil km2 já foram gravemente atingidos, englobando oito estados da região Nordeste, além do norte de Minas Gerais. Nos últimos 10 anos, o desmatamento da Caatinga atingiu uma área equivalente ao tamanho de Portugal, a ponto de, hoje, estar com quase 50% do seu território afetado por processos acentuados e severos de desertificação.



Técnicas que minimizam o avanço da desertificação


De acordo com a Embrapa e seus parceiros, a desertificação pode ser controlada ou, ao menor, ter seu avanço minimizado por meio de algumas técnicas, como:



Recuperação da mata ciliar

Controla a erosão das ribanceiras das calhas dos rios e riachos, controla o aporte de nutrientes e de produtos químicos carreados aos cursos d'água, protege a zona ripária e filtra os sedimentos e nutrientes.


Reflorestamento


Regularização do ciclo hidrológico, prevenção da erosão, proteção à fauna, melhoria das condições geoambientais, incentivo à apicultura, controla os níveis de degradação do solo e da vegetação, aumenta os recursos hídricos, reduz os prejuízos na agricultura relacionados com enchentes, aumento do estoque sustentável de madeira legal, sequestro de CO2 e redução do efeito estufa.


Quintais produtivos

Conservação do meio ambiente, maior diversificação da produção e menos riscos, maior proteção dos solos contra efeitos erosivos, aumento da ciclagem e disponibilidade de alimento, proximidade da moradia do produtor, melhora a qualidade do alimento em função da não utilização de agrotóxicos e ainda auxilia na segurança alimentar do rebanho.


Sistemas Agroflorestais (SAFs)

Custos de implantação e manutenção reduzidos, diversificação na produção, aumentando a renda familiar e melhorando a alimentação, favorece a recuperação da produtividade de solos degradados através de espécies arbóreas implantadas, melhora a estrutura e fertilidade do solo devido à presença de árvores que atuam na ciclagem de nutrientes, reduz a erosão laminar e em sulcos, aumenta a diversidade de espécies e aumenta a produtividade, devido a fatores interligados do sistema (sombra + conforto animal).

Barragem subterrânea

Grande economicidade na construção, menor perda de água por evaporação, pois não existindo "espelho d'água a insolação quase não atua, e maior proteção da água contra a poluição bacteriana superficial, já que a água fica armazenada na sub-superfície.


Barragens sucessivas


Redução do assoreamento dos reservatórios e rios, promove a dessalinização ou a fertilização gradual do solo e a oferta de água em quantidade e qualidade nos tributários ou riachos da microbacia hidrográfica, promove o ressurgimento da biodiversidade da Caatinga, favorece a disponibilidade diversificada de alimentos no fundo do vale, reduzindo a pressão da vida animal sobre a vegetação, nas vertentes da microbacia hidrográfica, proporciona disponibilidade de água para o consumo animal, segundo uma distribuição temporal e espacial satisfatória.


Barraginha / Barreiro

Melhora a qualidade do solo por acumular matéria orgânica, mantém o microclima ao redor da barraginha mais agradável, e a umidade no entorno também é favorável ao plantio de grãos, frutas, verduras e legumes.


Barreiro trincheira


Armazena água da chuva para a dessedentação animal e para a produção de verduras e frutas que servirão à alimentação da família, garantindo a soberania e segurança alimentar.

Captação in situ


Controla a erosão, conserva o solo, maior disponibilidade de água para as planta, aumentando a resistência aos veranicos, baixo custo de implantação, e favorece a recarga do lençol d'água:

  • Captação da água da chuva

  • Aração em faixas

  • Sulcamento pré-plantio

  • Sulcamento pós-plantio

  • Sulco barrado

  • Aração e plantio no plano


Cisterna calçadão


Baixo custo e fácil construção, a água pode ser utilizada para irrigar quintais produtivos, plantar fruteiras, hortaliças e plantas medicinais, e para criação de animais, pode-se fazer irrigação de salvação, utilizar a água para sistemas simplificados de irrigação, e utilizar o calçadão para secagem de produtos como feijão, milho, goma e a casca e a maniva da mandioca que, passadas na forrageira, servem de alimento para os animais e para outros usos.


Poços rasos


Contribui para manter a família de pequenos produtores rurais no campo e amplia a renda familiar a partir da produção contínua de frutas e hortaliças.


Isolamento da área


Conduz a regeneração natural e enriquecimento da área para incremento da biodiversidade.


Cordões de pedra em contorno


Adequado a pequenas propriedades, controla o volume e a velocidade das enxurradas, deposição e retenção de uma massa de sedimentos sobre a área onde são construídos, modificação do micro relevo na faixa compreendida entre os cordões, aumento da profundidade efetiva sobre a área de deposição, melhoria das propriedades físico-químicas do solo, sobre a área de deposição.


Referências






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