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Consumo de plástico durante e pós pandemia

Atualizado: 5 de mar. de 2021

Ouvimos falar muito que com a pandemia o mundo parou de vez. De fato muitas coisas estagnaram, tiveram uma redução ou foram adaptadas à nova realidade, que é o caso do trabalho, do comércio e, inclusive, dos nossos hábitos. Apesar disso, continuamos em casa e, com ou sem isolamento social, não paramos de gerar lixo, e este têm estado em um volume até maior do que antes da pandemia, sendo composto, agora mais do que nunca, por um dos maiores vilões do meio ambiente: o plástico.


Segundo a Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA), houve um possível aumento de 250 a 300% no consumo de plástico descartável nos Estados Unidos desde a disseminação do coronavírus. Já no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), com a quarentena e isolamento social houve um aumento de 15% a 25% na quantidade de lixo residencial, e um crescimento de 10 a 20 vezes para os resíduos hospitalares. E, de acordo com o Compre&Confie, o comércio online brasileiro teve um aumento de 81% em Abril em relação ao mesmo período do ano passado, sendo a categoria de alimentos e bebidas a que teve maior crescimento em volume de compras com aumento de 294,8% em relação ao mês de abril de 2019. Dessa forma, o fato de estarmos mais em casa provocou uma maior movimentação do e-commerce e serviços de delivery, assim, diversas empresas investiram em tecnologias voltadas a esse setor para suprir toda essa demanda, resultando no aumento da geração de resíduos referente as embalagens e utensílios, que na maioria das vezes são plásticos descartáveis. Sendo que previsões apontam para uma popularização desse tipo de hábito de ficar mais em casa e comprar online mesmo após o fim da pandemia. Ademais, no atual contexto, o preço do petróleo reduziu drasticamente, o que também estimulou uma produção massiva do plástico. O grande problema é que além da geração exorbitante desses resíduos, grande parte deles está sendo descartada de forma inadequada sem seus devidos cuidados.


De acordo com o movimento Break Free From Plastic, pesquisadores afirmam que indústrias fabricantes de plástico estão buscando levar vantagem da incerteza e do medo de contaminação para “empurrar” o plástico descartável em embalagens para a população com o pretexto de ser algo benéfico; a melhor opção em termos de segurança e higiene contra o vírus. Sendo assim, medidas de sustentabilidade e de redução de resíduos acabaram sendo afrouxadas e até mesmo suspensas, e naturalmente passamos a utilizar mais plástico no nosso dia-a-dia. Isso tudo gerou um ambiente perfeito para que não mais passássemos a vê-lo como inimigo, mas aliado no combate ao vírus, retrocedendo todo o avanço conquistado para implementar medidas ambientais de redução da poluição por plásticos.


Estudos apontam que reutilizar é bastante seguro, e que, inclusive, de acordo com resultados de um experimento publicado no The New England Journal of Medicine, o tempo de permanência do coronavírus no plástico é de até 72 horas, tempo maior que em outros materiais, como o papelão, que é de 24 horas, sugerindo que sacos de papel podem ser uma alternativa menos arriscada que os sacos plásticos, além de poluir menos. Portanto, o plástico não é garantidor de uma proteção absoluta. Inclusive, por exemplo, lavar as mãos é mais eficiente do que usar luvas, segundo a OMS. Claro que pessoas que trabalham em serviços essenciais, ou que lidam diretamente com materiais contaminados devem utilizar todos os equipamentos possíveis para garantir sua proteção. Mas para o restante da população talvez não seja tão necessário. O mais importante é utilizar máscara de preferência de algum material reutilizável, lavar bem as mãos e realizar o distanciamento e isolamento social, para quem pode.


O Brasil produz 11,3 ton/ano de resíduo plástico, mas só recicla 1,28%, segundo o WWF, o que está bem abaixo da média mundial de reciclagem de 9%. Contrário ao que muitos pensam, a reciclagem não é a grande solução nesse momento, mas sim a redução ou reaproveitamento. Infelizmente até hoje poucos são os tipos de plástico que são de fato reciclados, a maioria não é, assim, grande parte é incinerada, representando uma enorme fonte de poluição atmosférica. E o tipo de plástico que nesses tempos atuais aumentou na demanda são justamente os mais difíceis de reciclar, como as sacolas plásticas, plástico filme, luvas, máscaras, etc. que são compostos por diversos tipos de plástico, que quando misturados entre si ou com outros materiais acaba tornando sua reciclagem mais complexa.


O aumento do consumo e geração de resíduos plásticos gera consequências em todo o planeta, porém agrava ainda mais a realidade de países que contam com um sistema precário de reciclagem, como é o caso do Brasil. Esses baixos níveis de reciclagem estão aliados ao desinteresse público pela reciclagem do plástico, que levam à falta de investimentos e de incentivos, e acaba culminando na destinação desses resíduos recicláveis aos aterros, sem a possibilidade de reaproveitamento. Essa terrível realidade acaba sendo agravada no atual contexto de pandemia, em que ao mesmo tempo em que houve uma maior geração de lixo nas casas devido a um maior consumo, por conta de pessoas trabalhando em casa e crianças sem escola, os serviços de reciclagem e coleta seletiva estão estagnados devido à insegurança sanitária aos catadores que trabalham diretamente manuseando o lixo. Infelizmente, atualmente só existem duas centrais de reciclagem mecanizadas que se localizam em São Paulo, no restante do país todo o lixo fica diretamente em contato com os catadores. De acordo com o Cempre, 90% de todo o material reciclável é manuseado por esses trabalhadores sejam eles informais ou cooperados. A pandemia deixa os trabalhadores do setor muito vulneráveis, e obviamente não podemos colocar a saúde desses trabalhadores em risco, mas podemos sim mudar nossa forma de consumir esse tipo de material, buscando ao máximo reduzi-lo e bani-lo de dentro de nossas casas.


Com toda a incerteza que estamos vivendo nesse momento, somado ao fato da dúvida quanto a forma que a pandemia irá se desenrolar e seus efeitos nos costumes e hábitos da população, o principal medo é quanto a um possível cancelamento de medidas e políticas que tinham como objetivo a redução do consumo de plástico pelos governos, empresas e consumidores, que haviam dado um passo à frente nessa questão, mas que podem retroceder devido a associação errônea do plástico descartável a proteção e combate ao vírus.


Num contexto em que estávamos de avanço em leis que restringiam o uso de sacolas plásticas e canudos, parece que a pandemia veio para fazermos regredir nesse alcance. O problema é que regredir quanto a isso traz um preço ambiental muito grande, e quanto mais continuarmos com isso iremos pagar mais caro lá na frente. Estamos muito perto de chegarmos a um colapso ambiental muito grave quanto ao plástico. Tem mais plástico nos oceanos do que peixes. E agora não só plástico, mas plástico contaminado está poluindo os ecossistemas aquáticos. “A COVID não põe em xeque a estratégia de avançar para uma economia circular e mais reciclável” – Eric Quenet, da federação PlasticsEurope. Se essa situação calamitosa persistir todos os esforços empregados na redução do consumo de plástico de uso único vão ter sido em vão e a poluição dos oceanos pelo plástico vai ser ainda mais agravada.


É preciso estarmos conscientes dos nossos padrões de consumo, do volume que geramos, e de como gerenciamos nossos resíduos inadequadamente. Então, que tal repensarmos e buscarmos reduzir nosso consumo de plástico? Pare e reflita: você realmente precisa deles? Pense nos impactos que eles causam, vale a pena continuar? Busque fazer a sua parte. Reduza a quantidade de resíduo que você produz principalmente o plástico, separe seu lixo, não jogue equipamentos de proteção individual fora em dias de coleta seletiva e ao jogar buscar sempre segregá-los do lixo comum em sacos próprios ou no próprio lixo do banheiro, contribua e apoie iniciativas que realizam algum tipo de suporte às pessoas que trabalham em serviços de reciclagem. Mesmo em tempos de pandemia, devemos buscar manter as boas práticas, pois um dia isto terá seu fim, mas o plástico levará muito mais tempo perdurando e poluindo o meio ambiente.


Sabendo que o futuro pode ser vislumbrado como uma montanha enorme de plástico não reciclado, e que você como agente transformador pode fazer algo para mudar isso, a pergunta que não quer calar é: você vai buscar fazer a sua parte?



Referências



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