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Qual a relação entre o uso da internet e a pegada ambiental?


Com a pandemia de Covid-19 e a aplicação de medidas de distanciamento social, o modo de se relacionar com outras pessoas e o mundo mudaram. As chamadas de vídeo e redes sociais se tornaram essenciais para trabalhar, estudar e conversar com amigos e os streamings e jogos online se tornaram ainda mais populares como fonte de entretenimento.

Ao mesmo tempo em que essa mudança de hábitos reduziu a quantidade de emissão de CO2 devido à diminuição dos deslocamentos, ela apresenta alguns impactos ambientais maiores do que imaginamos. Um grupo de cientistas de universidades americanas e britânicas realizou um estudo para analisar esse impacto do aumento do uso da internet na pegada ecológica. Eles reuniram dados dos seguintes países: Brasil, China, França, Alemanha, Índia, Irã, Japão, México, Paquistão, Rússia, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos. O estudo foi publicado em abril de 2021 no periódico científico Resources, Conservation & Recycling.

A pegada ecológica é um indicador da quantidade de recursos consumidos para gerar produtos, bens e serviços, ou seja, faz uma relação entre a disponibilidade dos recursos naturais e as atividades humanas. Esse índice inclui as pegadas de carbono, hídricas e terrestres que são, respectivamente, as quantidades de CO2, água e terra requeridos para realizar uma atividade.

Segundo o estudo, considerando as médias mundiais, o uso de internet tem uma pegada de carbono que varia de 28 a 63g de CO2 por gigabyte (GB), enquanto as pegadas hídricas e terrestres variam entre 0,1 a 35 L/GB e 0,7 a 20 cm²/GB, respectivamente.

Os cientistas apresentam mais algumas estimativas que nos ajudam a ter uma melhor noção desse impacto. Tomando a pegada de carbono média mundial de 32g CO2/GB, o serviço de armazenamento e transmissão de dados emite cerca de 97 milhões de toneladas de CO2 por ano - esse número é equivalente à pegada de carbono anual da Suécia e Finlândia. Enquanto isso, a pegada hídrica global mediana é estimada em 2,6 trilhões de litros de água, equivalente ao volume de mais de 1 milhão de piscinas olímpicas. A pegada terrestre também é impressionante, com aproximadamente 3.400 quilômetros quadrados de terra, equivalente às áreas combinadas da Cidade do México, do Rio de Janeiro e da Cidade de Nova York.

Porém, esses parâmetros podem mudar de acordo com a fonte de energia de cada país. No Brasil, por exemplo, onde a maior parte da energia vem das usinas hidrelétricas a pegada hídrica é 218% maior que a média global, enquanto a Alemanha, líder mundial em energia renovável, possui uma pegada de carbono 28% menor que a média, mas tem uma pegada terrestre 204% maior.

O estudo também analisa o efeito de outros serviços como jogos, redes sociais e mensagens instantâneas, porém, os maiores índices vêm das vídeo chamadas e serviços de streaming. Uma hora de chamada de vídeo ou streaming emite cerca de 157g e 440g de CO2, respectivamente, enquanto um carro de passeio médio utilizando gasolina emite cerca de 170g de CO2 para percorrer 1 km.

Os pesquisadores listaram algumas medidas que podem reduzir esse impacto: desligar a câmera durante videochamadas pode reduzir as pegadas em 96% e alterar a configuração dos streamings de alta definição para a qualidade padrão pode reduzir 86%.

O objetivo do estudo e da divulgação dos dados não é tornar esses serviços os grandes vilões, mas mostrar como eles impactam o meio ambiente e fazer com que sejam pensadas novas formas de continuar a utilizá-los de forma mais consciente e equilibrada para o planeta.



Referências

Renee Obringer, Benjamin Rachunok, Debora Maia-Silva, Maryam Arbabzadeh, Roshanak Nateghi, Kaveh Madani. The overlooked environmental footprint of increasing Internet use. Resources, Conservation & Recycling. Volume 167. (2021) Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0921344920307072?via%3Dihub Acesso em 28/07/2021.


Iniciativa Verde. Calculadora de pegada de carbono. Disponível em: https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora. Acesso em 28/07/2021.


Grist. Brian Schatz. Video games consume more electricity than 25 power plants can produce. Disponível em: https://grist.org/article/video-games-consume-more-electricity-than-25-power-plants-can-produce/. Acesso em 28/07/2021.


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