Com as grandes mudanças climáticas, os seres humanos têm buscado alternativas mais sustentáveis em seu cotidiano. Percebendo isso, as indústrias de cosméticos e higiene pessoal passaram a desenvolver soluções para gerar produtos menos nocivos ao meio ambiente, como o xampu sólido, que aos poucos vem sendo introduzido na sociedade.
Observando a inserção desse novo material nos meios sociais e com a dúvida de qual seria o nível de sustentabilidade entre o xampu sólido e o xampu líquido, as então universitárias Thays Sampaio e Vívian D’Aguiar desenvolveram um estudo, no qual consideraram entender os aspectos de maior importância desde os processos de formulação até o descarte dos produtos em questão. A pesquisa estabeleceu três grupos como público-alvo: consumidores finais, microempreendedores (produtores artesanais do xampu), assim como as grandes marcas e indústrias. Além disso, foram comparados xampu líquido industrial, xampu sólido industrial e xampu sólido artesanal. A dissertação apresenta a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) desses materiais e, dessa forma, todos os passos da vida útil dos objetos foram analisados, como a fabricação da matéria-prima, a manufatura, a distribuição, o consumo e, por fim, o descarte. Assim, é possível analisar o impacto de cada fase e elaborar saídas mais sustentáveis.
Foram apresentadas análises que constam, por exemplo, que o xampu líquido é composto por cerca de 73,25% de água purificada, enquanto o xampu sólido industrial, assim como o artesanal, apresentaram níveis baixos de água, ou seja, inferiores a 20%. Da mesma forma que as embalagens dos xampus líquidos analisados possuíam sua embalagem primária com polipropileno (PP) e polietileno (PEAD), conhecidos também como plástico PP e plástico PE, respectivamente, em contra partida a embalagem do xampu sólido industrial geralmente é feita de papel kraft branqueado e do xampu sólido artesanal, papel kraft não branqueado. Isso demonstra um uso menor de produtos não renováveis e redução da pegada de carbono. Sem contar com as distribuições, pois os produtos industriais tendem a ter um transporte maior entre o local de fabricação até o consumidor e tal movimentação acarreta em altos gastos de combustível e energia, além das emissões de gases poluentes geradas pelos meios de transporte. Contudo, observa-se que os produtos artesanais são vendidos nos arredores do local de produção, por isso, possuem um menor impacto. Porém, vê-se que os xampus sólidos são mais compactos e concentrados, podendo ser armazenados e transportados de maneira mais prática que os xampus líquidos.
O estudo em questão apresentou também um interessante fato ao trazer o uso como uma das fases mais preocupantes, visto que o banho representa 80% do total do impacto no ciclo de vida do xampu. Isso demonstra como o consumidor exerce um importante papel na pegada desses produtos. Outro ponto chave é o descarte dado ao material. Infelizmente, estima-se que 81,5% dos cidadãos do Brasil possuem coleta de resíduos sólidos. Dessa porcentagem, 60,06% vão para aterros sanitários, 9,09% para aterros controlados, 10,9% para lixões e por volta de 1,36% são destinados à reciclagem. Ou seja, a maioria das embalagens não passa por qualquer tipo de reciclagem ou reuso. Sem contar que apenas 46% das águas residuais são tratadas. Sendo assim, vê-se o descarte inapropriado dos produtos industriais e artesanais tanto dos resíduos sólidos, quanto dos líquidos.
A pesquisa realizada permite observar o grande potencial dos xampus sólidos artesanais e industriais de serem alternativas sustentáveis. No entanto, é válido analisar a importância do uso adequado dos produtos comprados, visto que não será de grande valia adquirir um xampu considerado mais sustentável, porém desperdiçar água e energia durante seu banho. Além disso, é notável a importância de um programa de descarte e tratamento de resíduos líquidos e sólidos eficiente para tornar a sustentabilidade real. Por isso, não só deve-se consumir produtos com menor impacto ambiental, mas também refletir se cada um está agindo de maneira consciente com e para o meio ambiente.
Referências
D’Aguiar, Vívian; Sampaio, Thays. ESTUDO COMPARATIVO DAS PEGADAS AMBIENTAIS DE XAMPU SÓLIDO E XAMPU LÍQUIDO CONVENCIONAL POR AVALIAÇÃO DE CICLO DA VIDA. Rio de Janeiro: UFRJ, 2020.
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