Arquitetura sustentável: uma alternativa ao impacto da construção civil no meio ambiente
Por Gabriel Bezerra Costa de Lima
O problema: RCC, os resíduos da construção civil
As atividades da construção civil efetuaram um papel fundamental na expansão das cidades, contudo, desde seus primórdios foram desempenhadas de forma artesanal, restringindo-se a pouca tecnologia e gerando uma enorme quantidade de resíduos. No início da história das cidades, os recursos naturais pareciam infinitos, porém, com o desenvolvimento acelerado das áreas urbanas e o crescimento populacional, vislumbrou-se um cenário antes impensável: a natureza já não era capaz de absorver o acúmulo de substrato produzido pela humanidade e ainda fornecer novos recursos. Em virtude dessa nova concepção de entender o ser humano como parte de um ecossistema natural com recursos finitos, nasce o pensamento do desenvolvimento sustentável.
Caçamba de entulho - Fonte: Gazeta do povo/Divulgação
Dessa forma, uma vez que a proposta de desenvolvimento sustentável ganha mais adeptos, é necessário entender a relevância do setor da construção civil como um agente de impactos ambientais. Para Mingrone (2016), a construção civil é um dos setores que possui um dos mais elevados índices de impacto ambiental e social. Além do consumo exagerado dos recursos naturais, a poluição gerada pela construção está atrelada a sua essência de modificar, transformar e subverter a paisagem natural para o benefício humano, às vezes se esquecendo de que o ser humano faz parte de um ecossistema.
Uma alternativa: arquitetura sustentável
Desde a década de 90, com a realização da ECO-92, tem crescido a consciência dos impactos nocivos da sociedade humana sobre o meio ambiente. Nesse sentido, cada vez mais se eleva a porcentagem de pessoas, empresas e entidades de pesquisa que buscam alternativas inovadoras para sanar o maior problema para o século XXI: as mudanças climáticas. Como uma forma de combate à degradação do planeta surge a preferência por uma arquitetura sustentável, consciente do impacto em transformar a paisagem natural e racionalizada. A racionalização tem como premissa minimizar os desperdícios e a geração de substratos nocivos para o planeta por meio de práticas que otimizam a gestão do processo construtivo. Para Karpinski (2009), os resíduos da construção possuem baixa periculosidade, tornando-se preocupantes à medida que se observa o grande volume gerado. Segundo Kava (2011), a construção de edifícios consome 40% das pedras e areia utilizados no mundo por ano, além de ser responsável por 25% da extração de madeira anualmente.
Devido à quantidade de materiais com resíduos gerada ano após ano pela indústria da construção civil esse setor deve obedecer às leis ambientais. A regulação dos RCC no Brasil é feita pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que define as normas e procedimentos para a gestão dos resíduos . Além disso, por meio da resolução n° 307, de 5 de julho de 2002, o CONAMA adverte que os produtores de resíduos têm a responsabilidade de gestão e devem se certificar que eles sejam armazenados e transportados para um lugar adequado, onde possam ser reciclados ou depositados de forma correta. A tendência mundial é de que as leis ambientais sejam mais severas sobre as práticas que mais impactam a natureza. Contudo, ainda falta fiscalização para analisar toda a cadeia de produção da construção civil e punir os infratores das leis ambientais.
A arquitetura e a construção, embora tenham uma grande responsabilidade nos impactos ambientais do planeta, são setores que têm um alto potencial de combate às mudanças climáticas. Assim , nascem propostas de construções sustentáveis. Segundo Mingrone (2016), o termo é usado para qualificar um conjunto de práticas usadas antes, durante e depois da execução da obra civil, tendo como principal objetivo obter uma construção que não agrida o meio ambiente ou crie meios para minimizar os impactos causados, oferecendo conforto ao ser humano e, ainda assim, gerenciando de forma consciente os recursos naturais, como consumo de água, energia e materiais, de forma a compor um conjunto de técnicas que garantam a vida útil da edificação em harmonia com as práticas de preservação ambiental
Garantindo a sustentabilidade: os selos de certificação
Mas como manter e promover as construções sustentáveis? Atualmente existem selos de certificação ambientais para as construções com a função de guiar novas estratégias de projetos visando práticas mais sustentáveis. Os selos no Brasil que merecem mais destaque são: Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), Haute Qualité Environnementale (AQUA-HQE) e WELL Building. As certificações premiam empreendimentos que minimizem os impactos ambientais tanto na fase de construção quanto na de uso. Ao otimizar o consumo de água, energia e materiais, busca-se, portanto, compor uma edificação eficiente que se coloque como protagonista na luta pelo meio ambiente e que ainda melhore, por consequência, a qualidade de vida dos usuários.
O LEED é o selo de orientação ambiental, desenvolvido pela Green Building Council, com maior reconhecimento a nível internacional. O processo de avaliação funciona a partir da comparação da performance ambiental entre dois edifícios, podendo ser dividido em Silver, Gold ou Platinum, de acordo com o nível de desempenho do edifício e suas particularidades.
Selo Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) - Fonte: GBC Brasil
O AQUA-HQE é um selo dado pela Fundação Vanzolini e tem por característica demonstrar a qualidade ambiental dos empreendimentos civis. O construtor do edifício deve garantir que o projeto, contemplando todas as fases (programa, concepção, obra em si, uso, operação e manutenção), atenda aos requisitos ambientais. Dessa forma, o projeto terá benefícios no bem-estar dos usuários, com economia de água e energia, além de contribuir para o desenvolvimento socioambiental.
Selo Haute Qualité Environnementale (AQUA-HQE) - Fonte: Fundação Vanzolini
O selo WELL, criado pelo International Well Building Institute, enfatiza a saúde dos usuários como premissa, por isso, é um complemento às outras certificações ambientais. Dessa forma, o selo vai além da contribuição ambiental em si;, contempla e insere na sustentabilidade da edificação as pessoas que o habitam, melhorando a qualidade de vida e o desempenho do conjunto: pessoas, meio ambiente e edifício. Por se tratar de um selo de qualidade, o WELL exige que os edifícios sejam certificados a cada 3 anos.
Selo WELL Building - Fonte: Well certified
Os selos apresentam orientações para os empreendimentos e podem servir para questionar toda a cadeia de produção tradicional. Além disso, é uma excelente ferramenta de comprovação de que uma construção é realmente sustentável. Uma vez que os empreendimentos sustentáveis se tornam mais conhecidos, cria-se força para incentivar mudanças estruturais na construção civil.
As atividades da construção civil e o desenvolvimento humano estão vinculados. Com a extensão do debate sobre sustentabilidade no mundo, cada vez mais há a consciência da importância desse assunto. Setores da economia e da jurisprudência estão se organizando para atender à crescente imposição do mercado pela elaboração de projetos sustentáveis por meio de leis e selos ecológicos. Dessa forma, o setor da construção civil, responsável por grandes impactos socioambientais, também está se rearranjando para seguir essa tendência mundial.
Referências
ArchDaily Brasil. CALDAS, Lucas R. 10 Dicas para projetar edificações mais saudáveis . Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/946689/10-dicas-para-projetar-edificacoes-mais-saudaveis> Acesso em 25/11/20.
Sinduscon/DF. KARPINSKI, Luisete Andreis. Gestão diferenciada de resíduos da construção civil: uma abordagem ambiental. Edipucrs, 2009. Disponível em < http://www.sinduscondf.org.br/portal/arquivos/GestaodeResiduosPUCRS.pdf> Acesso em 25/11/20.
Repositório Digital Institucional da UFPR. KAVA, Cintia M. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A Construção Civil, a Construção Sustentável e a Educação Socioambiental: Um Estudo de Caso de Aplicações nas Habitações de Interesses Sociais. Disponível em <https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/43217/R%20-%20E%20-%20CINTIA%20MERLO%20KAVA.pdf?sequence=1&isAllowed=y> Acesso em 26/11/20.
Repositório de Outras Coleções Abertas (ROCA). MINGRONE, Renan C.C. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Sustentabilidade na construção civil: análise comparativa dos conceitos empregados em obras segundo as certificações AQUA-HQE e LEED. Disponível em <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/6891/1/CM_COECI_2016_1_28.pdf> Acesso em 26/11/20.
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