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Apple e celulares sem carregador: sustentabilidade ou lucro?

Por Hiasmin Sodré


Anualmente, a Apple – umas das maiores empresas de tecnologia do mundo – faz um evento para o lançamento de novos produtos que atrai a atenção de milhares de pessoas ao redor do globo. Avaliada em 1 trilhão de dólares (2018), a multinacional é reconhecida pela inovação e qualidade de aparelhos celulares e computadores, que transcendem o uso tecnológico e se tornaram um artigo de desejo, já que são símbolo de um estilo de vida elitizado.


No evento de lançamento do iPhone 12, em outubro de 2020, a marca anunciou que o smartphone não viria acompanhado do carregador, alegando que essa seria uma medida sustentável. Lisa Jackson, vice-presidente de Meio Ambiente, Políticas e Iniciativas Sociais da Apple pontuou: “Existem (...) mais de 2 bilhões de adaptadores de energia da Apple no mundo, sem contar os bilhões feitos por terceiros. Estamos removendo esses itens da caixa do iPhone, o que reduz as emissões de carbono e evita a mineração e o uso de materiais preciosos”. A medida poupou cerca de 4,20 dólares por aparelho, totalizando em economia de 264 milhões de dólares somente com as vendas do final do ano passado.


Mas essa é mesmo uma medida sustentável?


A princípio, cessar uma produção demasiada de um objeto parece ser uma boa alternativa para a diminuir a geração de resíduos e emissão de carbono. A empresa utiliza o pressuposto de que a maioria dos usuários já possuem o carregador e que, por isso, não haveria a necessidade do envio junto com um novo aparelho. Entretanto, quando um novo aparelho é adquirido, o anterior é vendido ou doado, geralmente com o carregador. Ainda que o vendedor possa manter o seu carregador, o freguês, provavelmente, terá que comprar um – a conta não fecha! Não somente, a necessidade de mais uma caixa para o carregador também vai na contramão para a mitigação da geração de carbono.


Qual é a real intenção dessa medida?


Uma vez que o preço não sofreu ajuste para descontar a ausência do carregador, a Apple acaba lucrando esse valor, como já mencionado no início desse artigo. Essa conclusão não é tão surpreendente, uma vez que a empresa é um dos maiores símbolos do modelo capitalista estadunidense: diversas manchetes de jornadas de trabalho exploratórias e péssima remuneração para a produção de iPhones estão associadas ao nome da marca.


Sendo assim, outro ponto deve ser posto à tona: a falsa propaganda de estar consumindo produtos de uma marca que se preocupa com o meio ambiente. Com o advento do movimento ambientalista atualmente, surge uma pressão para que as grandes corporações adotem práticas mais sustentáveis, reflexo da conscientização das consequências geradas pelo consumismo exacerbado. Por isso, a demasiada tentativa de esverdear uma empresa marcada pela obsolescência programada.


Apesar de não ser movida por boas intenções, a iniciativa pode reverberar boas práticas. Uma das maiores empresas do mundo serve de exemplo para muitas outras, que podem, realmente, adotar práticas mais sustentáveis.


Referências


The Shoppers. Apple: a marca que transformou o iPhone em objeto de desejo. Disponível em: https://theshoppers.com/pt-br/tech/apple-iphone-historia-curiosidades/ Acesso em: 19/07/2021.

TechTudo. Apple tem economia bilionária ao vender iPhone sem carregador. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/2021/01/apple-tem-economia-bilionaria-ao-vender-iphone-sem-carregador.ghtml Acesso em: 19/07/2021.

TecMundo. Celular sem carregador é mais prejudicial para o meio ambiente. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/dispositivos-moveis/215074-celulares-carregador-prejudiciais-meio-ambiente.htm Acesso em: 19/07/2021.

Metropoles. Sem carregador e fone no iPhone: especialistas elogiam atitude da Apple. Disponível em: https://www.metropoles.com/mundo/ciencia-e-tecnologia-int/sem-carregador-e-fone-no-iphone-especialistas-elogiam-atitude-da-apple Acesso em: 19/07/2021.

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